Editorial - Monografias 2017.2

Resumo

Revista Rascunho

v. 10, n. 17 (2018)

Rascunho # 10 - Monografias 2017.2

A edição 2017.2 da Revista Rascunho revela mais uma vez a potência e a criatividade dos estudantes de cinema e audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Esta potência está na diversidade de interesses estéticos, políticos e sociais que observamos nos TCCs desta edição e também na coragem de abordar temas nem sempre simples com rigor metodológico e respeito ao objeto de pesquisa.

Na perspectiva estética temos o TCC de Augusto Sergio de Azambuja, intitulado “O uso de ele- mentos das artes cênicas no filme Anna Karenina, de Joe Wright” que tem como objeto o uso de elementos das artes cênicas no filme Anna Karenina (2012), do diretor Joe Wright e do roteirista Sir Tom Stoppard, baseado na novela de Liev Tolstói. O autor procura problematizar as relações do cinema com as artes cênicas, pensando nos conceitos de estilo em Bordwell e de descrição em Genette, além do problema do ritmo na narrativa.

Ainda no contexto estético temos o TCC “Filme-ensaio, permanência através do registro”, de Adriana Ferraz Bassi. Em seu trabalho de conclusão de curso Adriana se propõe reunir informações sobre a modalidade ensaística, optando por uma abordagem histórica por sua herança literária e as primeiras manifestações no cinema documental. Unindo questões do campo da estética e da política, Lara Tosi Modolo, no TCC intitulado “Com tato, tela e corpo: videodança como experiência estética e política”, parte de um entrelaçamento da dança com o cinema. Dentro do contexto das práticas artísticas contemporâneas, a autora busca analisar os deslocamentos provocados por poéticas audiovisuais em quatro videodanças. Ampliando o campo do audiovisual para outras formas de criação com imagens e sons, Júlia Couto pesquisa as projeções realizadas na cidade de Niterói.

Em seu TCC intitulado “Disputas luminosas: as projeções audiovisuais a céu aberto em Niterói” ela mostra como realizadores de conteúdo audiovisual procuram reinventar as formas de entrar em contato com pessoas, diferentes possibilidades de exibição e veiculação audiovisual são colocadas em prática. A pesquisa investiga quais disputas são propostas com o deslocamento de projeções audiovisuais para espaços fora das salas, a partir da comparação entre sessões nesses moldes rea- lizadas em Niterói.

Se deslocando para novas plataformas de exibição e estratégias narrativas Karina Branco de Oliveira Uchôa em seu TCC intitulado “A era da ficção seriada televisiva” faz um estudo sobre o desenvolvimento da ficção seriada televisiva, através das questões de ordem histórica, estrutural e contextual que levaram o formato ao grande sucesso que se tornou. Para tanto, faz uma análise através dos conceitos de Era de Ouro da televisão, concentrando grande parte da discussão no período atual (a partir dos anos 90). A série da Netflix, House of Cards, será utilizada como estudo de caso, com o intuito de exemplificar as características abordadas no trabalho e trazer seus elementos próprios, configurando-se assim como caso paradigmático do momento atual, que chamo de Era da Ficção Seriada Televisiva.

A questão da exibição de uma perspectiva históricocrítica levou Otávio Henrique Reis Lima a realizar uma pesquisa intitulada “Exibidores brasileiros: breve histórico dos exibidores cinematográficos de Varginha (MG)”, na qual traça a história do circuito exibidor cinematográfico de Varginha (MG), a partir do ponto de vista da recepção cinematográfica. Neste estudo ele destrincha os aspectos técnicos, arquitetônicos, econômicos e culturais para um esclarecimento de como se deu o nascimento dos espaços destinados à projeção de filmes, suas origens na cidade objeto de estudo, o motivo do seu sucesso e/ou do encerramento das atividades, a atual situação destes espaços, como eles impactaram a comunidade e como se relacionam com o parque exibidor brasileiro, principalmente com outros pequenos exibidores.

Interessado num novo e efervescente campo do audiovisual, Artur da Rocha Pinto Bravo vai trabalhar em seu TCC com as possibilidade narrativas dos videogames. Intitulada “videogames e a união entre forma e conteúdo: manifestações das regras na narrativa e a influência de personagens ficcionais sobre o funcionamento do jogo”, a pesquisa tem como objetivo fazer uma reflexão sobre a relação entre forma e conteúdo nos videogames: como o funcionamento do jogo pode ser parte da narrativa e como certos eventos ficcionais podem alterar dramaticamente esse funcionamento. Para isto é feita uma análise de alguns aspectos de funcionamento comuns a vários jogos e a maneira como estão ligados à narrativa em cada um deles.

No trabalho de conclusão de curso “Documentário autobiográfico: Busca feminina, espaço e memória em Família Tipo, Cuchillo de Palo e Os dias com ele, Laís de Lourenço Teixeira busca compreender como a negociação entre realizador e o “outro” representado na autobiografia é constituinte da narrativa e de formação de uma identidade. O espaço é também central neste trabalho, visto que, a nosso ver, permite manejar a memória e história pessoal nos filmes, abrindo campo para rememorações marcadamente espaciais.

Pensar o audiovisual como uma estratégia comunicacional levou Jaqueline Aparecida Deister Moraes a investigar o uso da linguagem cinematográfica pelos grupos terroristas e propor uma reflexão sobre o quanto a comunicação contribuiu para o crescimento do Estado Islâmico. Em seu TCC intitulado “a linguagem do terror: os bastidores da produção audiovisual do Estado Islâmico” ela revela que o Estado Islâmico (EI) é considerado o primeiro grupo terrorista a utilizar a comunica- ção digital como estratégia para disseminar o fundamentalismo islâmico e atrair novos combatentes para a causa. A organização tornou o terrorismo um produto popular e da moda e conseguiu seduzir corações e mentes de jovens estrangeiros que juraram lealdade ao líder do EI Abu Bark Al-Baghdadi. O audiovisual tem um papel chave na expansão do ‘califado digital’.

Ainda nesta configuração política temos quatro trabalhos de conclusão de curso que discutem a questão da representatividade de determinados grupos na produção audiovisual contemporânea. Beatriz Lima Santos se propõe refletir sobre questões de representação negra no audiovisual infanto-juvenil brasileiro no TCC intitulado “Irmão do Jorel – Questões sobre a representação negra no audiovisual infanto-juvenil brasileiro”. Em seu trabalho se propõe a analisar o seriado televisivo brasileiro “Irmão do Jorel” sob a ótica da representação da cultura negra. Para ela há uma lacuna representativa de cunho sócio-cultural no audiovisual brasileiro em geral. Por sua vez, a produção cinematográfica infanto-juvenil no Brasil não é significativa historicamente. Nos últimos anos, é possível identificar um fortalecimento da cultura negra no âmbito social, além do aquecimento do mercado de produção cinematográfico e televisivo. Essa conjuntura possibilita o surgimento de novos caminhos para a diversidade étnica no audiovisual infanto-juvenil nacional.

A questão de gênero está presente no TCC de Gabriela Flores Zilio no trabalho intitulado “Gêneros em ação: representação no cinema de ação/ficção científica”. Para a autora o cinema de gênero é um espaço onde ansiedades e aspirações importantes para a sociedade que o produz são negociadas. Em seu trabalho ela procura investigar as representações de gênero observadas em filmes de ação do final da década de 90, sob o contexto da terceira onda feminismo e do surgimento do pós- feminismo como resposta à popularização de demandas de gênero.

A representatividade feminina é o tema de Livia Barcelos Lacorte no TCC intitulado “A perspectiva da irmandade – a sororidade como tema do filme The Beguiled, da diretora Sofia Copola”. Em seu trabalho ela investiga a escolha da diretora Sofia Coppola ao refilmar o clássico The Beguiled de 1971, do diretor Don Siegel, agora no ponto de vista das mulheres. Para tal exploramos a atual conjuntura de luta feminista dentro da indústria cinematográfica, o posicionamento da diretora e a recepção da crítica diante a perspectiva contemporânea de sua obra. Para ilustrar a importância da refilmagem, analisa comparativamente a construção da mise en scène entre as personagens femininas do filme de 1971, e as mulheres da obra de Sofia Coppola.

A representação de uma figura bastante popular na história do audiovisual brasileiro é o tema do TCC de André Rojas intitulado “Filmes, cultura e memória: a representação do caipira no cinema”.

Em seu trabalho ele busca analisar a relação entre a cultura caipira e a representação cinematográfica de personagens caipiras na história do cinema nacional. O trabalho busca analisar o processo histórico-cultural do país como forma de inserir a representação caipira na industria cultural brasileira do século XX, sobretudo nas artes, com especial ênfase na representação do caipira no cinema. Para tal a abordagem de pesquisa visa analisar a cultura caipira através de estudos etnográficos, relacionar com o processo de transformação do pensamento social brasileiro no século XX, através da literatura e dos meios de comunicação de massa, com o processo de construção de estereótipos caipira e sua relação com o cinema do século passado, tendo por principal referência para consolidação do mesmo o cinema de Amácio Mazzaropi.

Boa leitura,