AS PONTES DE NAOMI KAWASE
Resumo
O presente ensaio se propõe a estudar o cinema da realizadora japonesa Naomi Kawase, com interesse em investigar a potencia impulsiva de seu gesto criativo. Busca analisar e discorrer sobre alguns procedimentos estéticos e temáticos de Kawase com enfoque em seus trabalhos não
ficcionais, classificados a princípio como documentais, mas que estão imersos no campo do ensaio fílmico. Tais filmes se apresentam como mergulho na intimidade da diretora, trazendo para a tela o que há de cotidiano e comum em seu entorno; para então propor um elo sutil, porém
profundo, entre os planos do particular e do universal. Kawase empunha sua câmera como sendo uma espécie de extensão de seu corpo e, utilizando-a como mediadora das relações, conecta-se com o mundo a sua volta. Tal organização corpo-câmera-mundo se revela como um processo de experimentação formal no qual Kawase utiliza a possibilidade inventiva do cinema, tanto ao captar as imagens quanto ao monta-las, para traçar reflexões sobre si, compondo assim um gesto autofabulatório. Por fim, através da análise de alguns aspectos do filme Suzaku (1997), este
ensaio busca relacionar aquilo que transpõem o registro documental e experimental e se transcreve no rigor estético expresso neste que é seu primeiro longa de ficção. O olhar sobre ele, assim como sobre todo o trabalho, será perpassado pela imagem ou ideia da ponte como analogia
poética sobre processo, aproximação, conexão, troca, aprendizado etc. – temas que se revelam caros para Naomi Kawase em toda sua cinematografia.
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